Por Sharon Sevilha
Fotos Raul Azurduy
A magia do KISS consiste em fazer a mesmíssima coisa há quase cinquenta anos e fazer você acreditar que é a primeira vez, que nada foi ensaiado e que todos os elogios que Paul Stanley diz sobre o público é só para o público que está vendo aquele show específico, que aquele setlist foi feito apenas para aquele show com as músicas exaustivamente ensaiadas em algum estúdio distante. Se você fechar os olhos agora, pode visualisar cada detalhe deste estúdio imaginário. E você acredita. Acredita como uma criança acredita quando vai ao circo e vê o mágico serrando a mocinha dentro da caixa. Este poder, meus amigos, só o KISS tem.
Allianz Park completamente lotado, ingressos sold out, fila gigantesca, pessoas pintando o rosto com a maquiagem de seu músico favorito, contando histórias dos outros shows que já viram, exibindo suas tatuagens como troféus e, diferentemente de muitos outros artistas, os fãs se ajudando mutuamente: um chega cedo e guarda o lugar para o amigo que vem depois? Tudo bem! Eu trouxe lanche, quer? Alguém quer água? Novas amizades: quem chegar primeiro, abre os braços e guarda o lugar para os outros, combinado? É já aí que começa o chamado “pré-show” ou “esquenta” ou como você quiser chamar. Por que esperar em casa se você pode fazer parte disto? E se você está achando que a maioria era jovem, errou, amigo. A maioria já tinha passado dos trinta ou quarenta anos há muito tempo! O corpo pode envelhecer e você ficar de cama no dia seguinte, mas o espírito tem a mesma idade cronológica de quando você ouviu o primeiro acorde do primeiro disco - e isto fez sua vida mudar para sempre. Faz parte da mágica do KISS.
Como dito acima, a organização inicial foi feita pelos próprios fãs. Funcionários pediam carteirinha de vacinação por amostragem e pediam inutilmente que ninguém pulasse a grade. Na hora que os portões da pista premium abriram, o tumulto de sempre, mas sem ninguém reclamar. Era um exército lutando do mesmo lado. Pode chamar de KISS Army, se isto te lembrar alguma coisa. Muita correria, muito empurra-empurra. Portão B, que dá para as cadeiras, e Pista Premium entrando pelo mesmo lugar. Passei na frente, tive a bolsa apalpada na “revista” da fila das cadeiras. Vi que estava no caminho errado, voltei, passei pelas costas do policial e só pediram para eu mostrar o QR Code do ingresso na hora que passei pela catraca. E a única menina de cinquenta e dois anos chegou primeiro na grade do que os outros cinco ou seis rapazes que ela conheceu na fila. Pronto! Na grade. Sem pulmão, mas na grade! Juro que esqueci a COVID e beijei a grade.
A espera só não foi mais longa do que a última meia-hora antes de abrirem os portões. Na grade, comigo, só meu amigo de longa data. Como fã, posso chamá-lo de meu partner in crime. Perdemos os outros soldiers. Mechardising impossível de comprar, preços babilônicos. Então bora beber que os souvenirs serão os copos e as máscaras de papelão que deram na entrada e que só pegamos depois de garantir o lugar. A ideia das máscaras era para os fãs colocarem em frente ao rosto para uma foto com a plateia toda mascarada.
Às 21h00, ao final de Rock and Roll, do Led Zeppelin, as luzes se apagam. No telão, uma imagem inédita da banda saindo do backstage e indo para o palco. Aí vem a já conhecida voz inédita com o anúncio também inédito: “all right, São Paulo! You wanted the best, you've got the best! The hottest band in the world... KISS!!!!!
Até agora, não falei o que é sabido por todos: esta é a última turnê da banda, a The End of the Road Tour. Meu irmão, se você não chorou nos primeiros acordes de Detroit Rock City sabendo que é a última vez que você está ouvindo, acredito que você estava no show errado, não me leve a mal.
A cortina preta cai e a banda desce do teto do palco já tocando e correndo no palco. Paul Stanley cumprimenta a cidade e continuam tocando e correndo e fazendo aquela coreografia “ineditamente” conhecida. O que se segue, é um hit atrás do outro. Teve Calling Dr. Love, Shout ir Out Loud, War Machine, Deuce, Heaven's On Fire... Em I Love it Loud, Gene Simmons cospe fogo e o público vibra como se não soubesse disto! Explosões, chamas no palco, a guitarra do Tommy Thayer disparando fogos. Tudo ensaiado e feito noite após noite, mas o KISS é magia e a gente faz de conta que não sabe e vibra de verdade!
Seguem com mais explosões e hits. Então, ao menos para mim, a grande surpresa: Tears Are Falling. Esta música não está no meu top ten do KISS, mas é a primeira vez (de verdade, juro!) que a ouço fora do extinto pocket show, no Meet &
Greet. Uma bela balada de Paul Stanley.
Para quebrar o clima de baladinha, vem o solo de Gene Simmons. Ele vomita sangue “de verdade”, of course, voa e toca God of Thunder praticamente do teto do palco.
Quando Paul Stanley diz que quer ficar mais perto do público e voa para o palco B, a gente já sabe que está acabando. Não sei você, mas foi me dando um aperto no coração... De lá, ele acena para as pessoas da pista comum e para as que estão nas cadeiras mais distantes do palco, mostrando respeito e consideração por todos os fãs (por favor, deixem-me sonhar, ok?) e toca Love Gun e I Was Made For Loving You.
De volta ao palco principal, encerram com Black Diamond. Música sabiamente escolhida: eles sabem que tem todos os fãs under their thumb.
O bis vem com um piano no palco. É tanta fumaça e tantos fogos que as coisas surgem por mágica. O piano NÃO ESTAVA LÁ!!!!!! Eric Singer toca e canta Beth.
Aqui é preciso parar e comentar uma coisa, desculpem. Pelo menos, nisto, ele foi original. Peter Criss cantava a música sentado em um banquinho e jogava rosas vermelhas para o público.
Então o piano desaparece e Paul Stanley canta Do You Love Me? Antes, ele cita quantas músicas tocaram do álbum Destroyer, lançado em 1976, destacando, assim, a importância deste disco na carreira da banda. O Allianz inteiro canta junto!
E junto com os primeiros acordes de Rock and Roll All Nite, a fumaça, os fogos, as explosões, uma chuva infinita de papel picado e o choro de felicidade de ter feito parte deste show misturado à tristeza da promessa de ser o último.
Estamos falando de senhores. Não aparentam, mas são SENHORES com mais de setenta anos, minha senhora! Senhores que são super-heróis, mas quando se despem, tal Clark Kent ou Peter Parker, são pais de família e tem uma vida como cada um de nós.
Não! NÃO!!!!!! Mentira! O KISS é e sempre será o que vemos no palco. Não tem fantasia, eles são daquele jeito: The Starchield, The Demon, The Space Man e The Cat Man.
Encerro dizendo que acredito que esta pode ter sido a The End of the Road Tour, mas nada impede que daqui a uns dois ou três anos, a gente se veja de novo na Reunion Tour. Só vai para a frente quem é fã de verdade porque isto permite uma ligação de quando a gente era criança e acreditava mesmo nas coisas. Entendedores entenderão.
♥♥♥♥🔥
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