sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Morreu Lan, o caricaturista que adotou o Rio


Morreu na quinta-feira,
 aos 95 anos, o italiano Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini. Se o nome não lhe diz nada, reduza a apenas três letras: Lan, o caricaturista que adotou o Rio de Janeiro em 1952 e transformou em traços a alma da cidade. Nascido na Toscana em 1925, ele chegou a morar no Rio dos quatro aos sete anos, quando família se mudou para o Uruguai. Foi lá que começou a carreira, colaborando também para jornais argentinos e franceses. Voltou para o Brasil a convite de Samuel Wainer, editor do diário getulista Última Hora. Ficou de vez, trabalhando também em veículos como o Jornal do Brasil e o Globo.

Na charge política, Lan conseguiu, com uma caricatura, marcar a carreira do jornalista e deputado Carlos Lacerda (UDN). Wainer disse ao desenhista que Lacerda, seu inimigo figadal, aparecera num velório como “um papa-defuntos” e pediu uma caricatura. Lan pretendia retratá-lo com um urubu, mas não lembrava da aparência do animal. Então escolheu outra ave soturna: o corvo. Embora o próprio autor não gostasse do desenho, a sátira foi tão precisa, com os óculos do deputado transformados em olheiras negras, que Lacerda carregou o apelido até a morte, em 1977.

Mas o olhar de Lan se fixava mesmo no povo da cidade que adotou. Os bares, as rodas de samba, os estereótipos dos torcedores de futebol e, principalmente, as mulheres (galeria). Para ele, as montanhas da cidade lembravam as curvas femininas que desenhava sempre em dimensões generosas, contrastando com sua própria figura baixinha e bigoduda, transformado em personagem e admirador.

Ele estava internado com pneumonia desde 26 de setembro em um hospital de Petrópolis, onde vivia há 45 anos com a mulher, Olívia Marinho.

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