SADE, A FELICIDADE LIBERTINA
de Eliane Robert Moraes
16X23cm | 280 páginas | Quadrado
Para Michel Delon , Sade 200 anos (*) depois de ter pedido para ser esquecido é reverenciado, ou melhor "levado a sério" porque " ele é um dos nossos maiores narradores da crueldade e do absurdo, um incansável inimigo dos dogmas, um mestre do humor negro e um poeta de nossas piores angústias".
Agora não é o ato em si, a licenciosidade e a transgressão à moral judaico-cristã. Agora é o conjunto das sensações espaciais, a saciedade dos sentidos, as cores, formas, arquiteturas de um cenário. Eliane nos transporta em um roteiro maior que um "reality show" em um passado permeado de filosofia nada contida. Uma obra excepcional.
O livro foi publicado originalmente em 1994 e tem o frescor necessário para comemorar-se em bom estilo e muita inteligência o bicentenário.
(*) em 2014 comemorou-se o bicentenário de sua morte
(E.C)
O LIVRO
Tudo começa com uma viagem. No afã de conhecer a diversidade do crime, os libertinos de Sade correm mundo, exploram terras incógnitas, visitam desde as regiões mais bucólicas até os redutos mais inóspitos, num roteiro exemplar que tem seu ponto alto na Itália de Nero e Calígula. Como bons iluministas, não há lugar em que não vasculhem; como bons devassos, não há local onde não encontrem algum vestígio do vício que lhes move a curiosidade e a carne.
Ponto de partida dos libertinos, a viagem é também o topos do qual parte Eliane Robert Moraes para introduzir o marquês de Sade ao leitor brasileiro, convidando-nos a acompanhar a trajetória lúbrica de seus personagens. Percurso que será igualmente sinônimo de aventura: primeiro, por apresentar o universo de um escritor que, tendo sido vulgarizado como “caso clínico”, é hoje considerado um dos mais notáveis “homens de letras” do século XVIII europeu; segundo, porque propõe um roteiro literário e filosófico em que a surpresa se torna, por excelência, o elemento deflagrador da sensualidade.
Assim, em Sade —A Felicidade Libertina, o erotismo transparece menos na descrição das cenas sexuais do que na dieta dos devassos, no mobiliário ou nos figurinos do deboche, na paisagem ou na arquitetura dos castelos libertinos. Em suma, a autora sugere que na libertinagem — em que nada existe além do prazer dos sentidos — todo investimento é sensual. Daí que essa interpretação, construída num vigoroso diálogo com outros estudiosos, coloque em cena um autor radicalmente ateu e materialista, cujas ideias vêm importunar — oportunamente, talvez — os supostos ideais de liberdade e virtude forjados pelos philosophes da Enciclopédia.
Num fechamento progressivo, segundo o roteiro deste livro, os devassos de Sade vão se deslocar do espaço aberto para o interior de seus castelos, do grande teatro onde encenam espetáculos cruéis para um inconcebível salão de banquetes, até, por fim, atingirem os aposentos privados, onde a experiência da libertinagem assume contornos mais nítidos e insuportáveis. Ao final do percurso, o leitor se surpreenderá devassando os segredos da alcova íntima, onde tudo termina: o boudoir.
A AUTORA
Eliane Robert Moraes é professora de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do CNPq. Assina diversos ensaios sobre o imaginário erótico nas artes e na literatura, a tradução da História do Olho de Georges Bataille (Cosac &Naify) e a organização da Antologia da Poesia Erótica Brasileira (Ateliê). Publicou, pela editora Iluminuras, os livros: O Corpo impossível – A decomposição da figura humana, de Lautréamont a Bataille (2002), Lições de Sade – Ensaios sobre a imaginação libertina (2006) e Perversos, Amantes e Outros Trágicos (2013).
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