segunda-feira, 4 de abril de 2022

A ETERNA GRANDE DAMA DA LITERATURA BRASILEIRA

 por  Sharon Sevilha




 

Hoje, acordo com um dia lindo de outono e com a notícia triste, mas já esperada: a última grande escritora brasileira que eu admirava faleceu aos 98 anos, em paz, em casa. O dia lindo ficou feio e cinza.

 

Há diversas matérias falando sobre quem foi Lygia Fagundes Telles e sua importância literária. Falando dos prêmios que ela ganhou, da Academia Brasileira de Letras, sua vida e obra. É só jogar o nome dela no google. Conheço estas histórias de traz para a frente.

 

Falo aqui da importância que a escritora teve na minha vida e na minha formação. O primeiro livro que li foi AS MENINAS, submetido à inspeção da Ditadura Militar e que criticava duramente os anos de chumbo. Por sorte, todo polícial é burro. O safado que analisou seus escritos, não teve paciência para ler, olhou uma página ou outra, acreditou se tratar de uma história boba de três meninas e liberou. Ouvi esta história da boca dela, em uma das muitas palestras que ela deu nas mais diversas edições da Bienal de Livros de São Paulo.

 

Outra história que ela gostava de contar era sobre a pouca atenção dada aos escritores. Enquanto jogadores de futebol ganhavam milhões por uma aparição pública, o escritor ganhava, no máximo, um ramalhete de flores que estavam murchos antes de chegar ao hotel.

 

A Lygia (eu a tratava com uma intimidade incrível: nada de a senhora, era você mesmo. Que dona Lygia nada, era só Lygia) também gostava de contar que vinha de uma família rica, mas que ela era pobre. Seu pai perdeu todo o dinheiro da família em jogos de azar. Ela dizia: “avô rico, pai pobre, neto mendigo. Eu sou a neta mendiga” - e ria de si e todos riam com ela.

 

Tenho toda sua obra na minha modesta biblioteca. Os mais antigos foram herança da minha mãe, os últimos, presentes do meu marido.

 

Vejo muito do meu jeito de escrever prosa influenciado pelo jeito dela: a dor, a loucura, a morte. Todos os meus escritos tem personagens assim e terminam de maneira trágica.

 

Embora ela tenha se formado em Direiro, nunca me interessei pela profissão, sempre gostei mais das Letras. Ela nunca advogou, nem sei se tirou OAB, sempre escreveu. Este era o seu único ofício. E aprendi com a ela a responder: não me peça para fazer de graça a única coisa que sei fazer cobrando. Escrever.

 

Outra coisa que ela dizia e que eu trouxe para mim: a pouca idade não justifica o mau texto”. Por isso, nunca mostrei o que escrevo. Escrevo e guardo. Pronto.

 

Tive a oportunidade de encontrá-la, como disse acima, em diversas Bienais. Em uma delas, pedi que autografasse meu conto preferido, As Cerejas, mas não soube explicar - e ainda não sei – o porquê deste conto mexer tanto comigo. Seja como for, fica o link para que você o leia também.

 

Obrigada por tudo, Lygia: por ter me mostrado o caminho maravilhoso das Letras e por fazer parte da formação da minha personalidade.

 


http://leiadevez.blogspot.com/2010/08/lygia-fagundes-telles.html

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