sábado, 2 de abril de 2022

UM FURACÃO CHAMADO THE LIBERTINES

por Sharon Sevilha 








Antes de escrever esta resenha, li umas três ou quatro dizendo a mesma coisa: foi o show mais vazio depois das 18h, foi nostálgico, Pete e Carl não se entendia na hora de cantar Can't Stand Me Now... Até a aparência física do Pete foi criticada. Alguém disse que os dois estavam de chapéu!

 

Pergunto: o que importa a aparência? O tempo passa para eles também! O que importa como estão vestidos? O que vale é a música! “Ah, mas é o mesmo repertório”. E o KISS não está com o mesmo repertório desde 1999, trocando só uma música aqui, outra ali? Lembrando que o KISS lançou o MONSTER, em 2012 e só incluiu umas três faixas.

 






Assisti ao show de uma grade muito apertada e com muito empurra-empurra. Olhando para trás, o show estava lotado, as pessoas cantavam as músicas em uníssono. Só não digo que foi perfeito porque o Libertines fez um show que merecia fechar o festival – com fireito a fogos de artifício e tudo o mais. No lugar disto, como o Rancid, outra grande banda que tocou no Lollapalooza abrindo para o um-milhão-de-vezes-visto-Metallica, às seis da tarde. O bom foi o clima de grandes festivais: chuva e lama. Muita lama! Lamapaloser!

 

Levando em conta que a banda só tem três álbuns lançados e que é a segunda vez que os fãs brasileiros tiveram a oportunidade de vê-los, digo sem medo de exagerar: foi mágico! Uma pena só terem sido chamados apenas uns dez dias antes para substituir o Jane's Addiction.

 

No setlist, canções como Time for the Heroes, You're My Waterloo (com Carl no piano), What Katie Did (feita pelo Pete para sua então namorada e modelo, Kate Moss), Gunga Din (tem um filme com este nome, sabia?), Boys in the Band (que é sobre o Liam e o Noel, do Oasis), a maravilhosa Can't Stand Me Now (cantada com perfeição), Don't Look Back into the Sun e, entre outras tantas, a belíssima Music When The Lights Go Out. Esta me fez chorar até desidratar. E um brinde: o solo de bateria de Gary Powell.

 





Dava gosto de ver a banda entrosada e os bromates cantando no mesmo microfone com as bocas praticamente coladas. Foi o melhor show do Lollapalooza. Um presente surpresa para quem tinha comprado o ingresso antes da pandemia para ver o Guns and Roses – outra banda que amam falar mal, mas falaremos disto na resenha do show que farão por aqui na época do Rock in Rio.

 

Sobre a estrutura do festival em si, não posso falar muito, pois eu nem ia. Ingresso a preço nababesco, Interlagos, o lugar mais longe e difícil de chegar do mundo! O que presenciei, por volta das quatro da tarde – quando cheguei – foi uma fila babilônica do lado de fora. Lá dentro, só o copo com a logomarca do festival, mais ou menos R$ 20,00, filas para qualquer coisas que você pensasse. Tinha diversos espaços: gourmet, principalmente, porém vi da Melissa (aquela sandalhinha de plástico dos anos oitenta), tatuagem temporária, a clássica roda-gigante. Até um espaço para vender alguma marca de carro (com os carros!) tinha também. Honestamente, talvez eu esteja velha e chata: o festival mais parecia uma feira gigante com alguns shows para animar. CONSUMO! CONSUMO! CONSUMO! O que eu vi e que funcionava e estava sem filas foram os banheiros químicos: tinham até papel higiênico! Juro!!!!!!

 

Agora, tentando resumir o máximo possível, vou contar como fui parar neste festival.

Como disse acima, eu não ia: ingresso caro e só uma banda para ver – UMA BANDA QUE AMO!!!!!! É preciso falar das pessoas, não dos artistas envolvidos.

 

Justamente por não ter condições de pagar R$ 720,00 na meia entrada (mais 20% de taxa de incoveniência), conformei-me em não ver, mas como qualquer fã, fiquei triste, tipo “todo mundo vai ver o Libertines, menos eu”.

 

With a little help from my friend, fui esperar a banda no aeroporto acompanhada de uma amiga que não era fã até então. Fui com a letra dada pelo amigo: sabia o horário do voo. Beleza, né? Eles chegam, a gente pede uma foto, dá um beijinho e vai para casa.

 

O voo – que chegaria às 23h45 - chegou às 3h33 da madrugada. Estávamos lá desde às 22h30. Tem que ter muito amor no coração por uma banda, sério... Ar condicionado level Polo Norte, duas fumantes, entra, sai, olha o horário do voo – em looping.

 

Se eu for contar com detalhes, este texto fica longo demais e você para de ler. O Pete Doherty é um amor, um querido! Estava exausto, mas deu atenção, tirou fotos, autografou e ainda ficou na maior conversa.

 

Carl Barât... não há palavras para descrever tamanha doçura e generosidade. Ao saber que não iríamos ao show, pediu que escrevêssemos nossos nomes para nos colocar na Guest List (foi assim que fui parar no Lolla: convidada do Libertines) e ficou esperando o tour manager desembarcar para dar o papel com nossos nomes em mãos. Se quiséssemos, teríamos colocado uns dez nomes, fácil. Diz para mim: qual foi o artista que já fez isso com você chegando de um voo que atrasou três horas e tendo acabado de perder um amigo por overdose?

 

O John e o Gary deviam estar aparafusados no avião, pois o Pete e o Carl conversaram conosco durante uma hora e meia e os dois não desembarcaram. Se parar para pensar, eles passaram mais tempo com nós duas do que no palco, tocando. Conversamos sobre tudo e sobre nada. Eles, um inglês com sotaque pesadíssimo. Nós duas tentando entender e responder.

 




Até agora, eu e minha amiga estamos tentando entender o que foi este furacão chamado Libertines que nos virou do avesso e nos fez viver um dos momentos mais felizes de nossas vidas.

 

É verdade, Renato (RUSSO) - e aconteceu no dia do teu aniversário: só vai para a frente quem é fã e acredita mesmo nas coisas.

 

Sharon Sevilha, em 2 de abril de 2022.

 

 

Crédito fotos:

Doug Gauna

Paula Basílio

Sharon Sevilha

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