sexta-feira, 1 de abril de 2022

DIGA AOS ANJOS QUE ESTÁ TUDO BEM

 

por Sharon Sevilha

 

Sejamos sinceros: demorei para te conhecer porque nunca gostei do som da Alanis, mas sempre fui doente pelo Nirvana, e amei o Foo Fighters desde o primeiro álbum.

 

Na primeira vez que te vi, na verdade, não vi. Você ia vir antes, mas a banda cancelou. Vamos voltar.

 

Na primeira oportunidade (agora, sim) que tive de te ver, eu queria chegar na grade do R.E.M., no Rock in Rio de 2001, lembra? Não te vi de novo, porém é justo dizer que você me ajudou: no ritmo da sua bateria, as pessoas pulavam, abriam espaço e eu passava. “Vezenquando” (como escrevia um outro carinha que eu amava e que você também amaria conhecer) olhava para o palco.

 

Taylor, meu Sereio,

sempre te chamei de sereio por causa da sua beleza e por causa da sua voz, que levava à perdição assim como a das sereias. Um canto que fazia os marinheiros perderem a cabeça e se afogarem, conta a lenda. E que me fazia sonhar com a sua voz sussurrando no meu ouvido, todo suado, só de bermuda, depois de um show qualquer. Coisa de adolescente? Não. De fã. Fã, assim como o AMOR, não tem idade.

 

Fui te ver mesmo, na primeira edição do Lollapalloza, no Brasil, em 2012. E já que esta é uma despedida, serei honesta como não se pode ser. Eu estava lá para ver o Dave Grohl. Até que larguei meus companheiros de show e arrisquei quebrar a parede de tijolos vermelhos (ainda não tinha sido construída, você sabe) e chegar em frente ao palco. Quando a gente se encontrar, te ensino a origem e o significado da palavra companheiro. Você vai achar tão poético que não a deixará de fora da sua próxima música.

 


foto sharon sevilha

 

O que quero que você saiba é que sua ausência será sentida por mim para sempre.

Você foi embora no mesmo dia que conheci my boys, Pete e Carl, do Libertines. Sim, você sabe quem são, eu sei.

Sereio, sua partida me rondou. Meu pensamento te buscava na longa espera do aeroporto. Eu pensava em sua solidão. No momento final. No medo.

Fui o monstro chamado Egoísmo porque guardei tudo em uma caixinha e me permiti sorrir e ser feliz como fui poucas vezes. E me permiti porque nunca te vi sem um sorriso lindo e enorme no rosto.

Sua morte me faz pensar como a vida é breve e frágil, mas eu sei que você está bem agora. E, só agora, eu me permiti pensar nisto tudo que te escrevo. Evitei ler ou ouvir falar qualquer coisa sobre você desde sábado.

Algumas pessoas - como eu e você - não aguentam. Precisamos de drogas - lícitas ou não. O que importa se são compradas na farmácia, em um beco escuro ou entregues via delivery? Precisamos por sentir empatia demais ou por causa da aridez deste mundo. Por mais que a gente queira, não dá para viver protegido dentro da baleia o tempo todo, não é?

Espero que sua vida - curta e rápida como um piscar de olhos (hoje eu tenho permissão para usar lugar-comum) - tenha sido feliz. Pelo menos, era isto que você mostrava nos seus sorrisos tão largos e artificiais quanto os meus.

Quero acreditar que você está feliz de verdade agora e que logo nos veremos de novo.


foto sharon sevilha

Vou me lembrar e falar de você enquanto eu viver, assim, você será imortalizado por todos que te amam e será eternizado através dos seus filhos.

Obrigada por tudo, Sereio. Sua música sempre será um lugar para eu me proteger e me abrigar. Até que seu canto sedutor me leve para perto de você.

 

Love U,

 

Sharon

 

29.03.2022.

 


 

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